Tocar minha textura carnal exigirá tua escuta, diz um dos poemas deste livro. Vinda da escritora, que é também psicanalista, a palavra escuta impõe-se, aqui, como um convite raro e precioso: que eu, leitora (como você, que agora me lê), possa acolher a pulsação das palavras que querem ser carne como a vulva logo após o gozo, como a boca quando se desata o riso, como os olhos diante do espanto. Como as pálpebras quando se cerram, na entrega ao sono e aos sonhos. Assim cada palavra, aqui, quer que isso se receba na própria carne. Que nos deixemos vibrar, ao toque da linguagem, para escutar alguém: uma mulher. Nos poemas assim como nos fragmentos em prosa que compõem a Breve história da carne, a vida vai cutucando a teoria, com ousadia e coragem. A teoria se vai lambuzando de fluidos e se agita, feliz e estranhada. A pretensa neutralidade do autor é rigorosamente recusada em prol da particularidade de uma mulher, em chave feminista, pois a filosofia não pode evitar a vida e a [...]