No manejo das plantações, lavra-se a terra para que as camadas troquem de lugar enquanto as coisas do fundo vêm à tona. Assim, o ar entra. Aqui, uma mulher conversa com o próprio passado enquanto alinhava o que está por vir. Ao descobri-la, sabemos também que, se há cenas impossíveis de apagar, não há o que não se possa cavar no fundo das relvas, das pedras, das pernas, das sentenças. Não há o que não se possa criar. O discurso do buquê é feito de poesia em prosa, da umidade das florestas e das mulheres e sua capacidade inalienável de parir a si mesmas. Assim, de mãos dadas com a mulher que atravessa o poema, é possível trocar de pele, tocar na sede retida nos dentes, na confusão do corpo com a casa, no desejo de calçar os chinelos já não por força do hábito. Mas por força do amor. Como acontece nas fendas por onde o ar entra no solo, é o viço da poesia que recupera a palavra. Alguma coisa, talvez, parecida como um abacate. Que misteriosamente amadurece no meio da noite. (...)