Guias de cidades são ferramentas de rara utilidade. Conduzem-nos por espaços desconhecidos, nos ensinam onde encontrar o que buscamos, traçam roteiros precisos. Finda a viagem, nos servem de recordação, permitem que nos lembremos dos espaços visitados, recordando nomes e endereços. Este guia literário do Rio de Janeiro quer ter, no entanto, serventia bem diversa de tais instrumentos de navegação. As escritas da cidade que aqui se apresentam pretendem levar o leitor antes a perder-se pela cidade do que a encontrar trajetos seguros. Nos textos e nas imagens, caminhos já percorridos por outros passos, cenários vistos por outros olhos, querem provocar o leitor a construir sua própria cidade, viver, quem sabe, sua própria paixão. Como se verá em seguida, o Rio de Janeiro traçado pela escrita dos autores, cariocas ou não, apresenta-se inevitavelmente como espaço percebido numa relação amorosa. Seja nos momentos em que surge como sedutora e envolvente, seja quando se ergue diante dos olhos do artista como traidora, a rejeitar aquele que se ocupa em percorrê-la, a cidade provoca o criador. A organização deste guia seguiu a convicção de que a melhor maneira de conhecermos ou reconhecermos uma cidade é descobrir a cidade real que existe dentro da cidade imaginária. À visibilidade de uma cidade chega-se melhor pelos caminhos da cidade invisível, aquela construída na clausura do artista à sua mesa, arquiteto do papel movido por recordações e desejos.