Já em seus primeiros livros, René Girard identificou nas relações humanas efeitos dramáticos de certo mal ontológico, o qual tendemos a ocultar. Desvendar a falta que nos constitui implicou que a teoria mimética se compusesse desde o princípio pela surpreendente atitude da conversão. E reconhecer a violência que nos habita levou o pensador francês ainda além. A confrontação ao mecanismo vitimário determinou a teoria ela mesma, fazendo a obra girardiana abdicar com crescente firmeza do desejo de domínio sobre suas categorias. É a cada texto mais explícita a sua adesão à corrente cujo parentesco é visto já nesse gesto e naquela revelação: a apocalíptica. Em Sou o Primeiro e o Último, Maurício G. Righi reconstrói tal itinerário e apresenta com detalhes o profetismo que se funda na ideia do apocalipse. Escrito com fluência e convicção, o ensaio cativante do começo ao fim progride com seu próprio objeto, alternando entre esclarecedor e perturbador, e mantendo-se sempre estimulante.