Conto minha história sobretudo para mim mesmo e, enquanto o faço, vejo-a com uma certa estranheza de alheamento. É como se eu não estivesse falando de mim, mas de uma terceira pessoa, com uma personalidade própria, que nem eu reconheço, que se desgruda de mim. É como repetir em voz alta por diversas vezes o próprio nome; depois de um certo tempo, o nome em si torna-se estranho, não só as letras que o compõem, mas também a sua sonoridade. O B, o E, o N, o T e o O já não se relacionam mais entre si. E o Bento já não se relaciona mais comigo, consciência de mim mesmo. Quando muito, relaciona-se com o eu corporal, mas não com o eu mental ou espiritual.