O mais grandioso na produção de Camila Passatuto é a sua ânsia selvagem, quase escatológica, que desatina o leitor logo no primeiro contato com essa linguagem carnal que busca o verbo, o sangue e as vísceras de um possível interlocutor, mas que também é cheia de beleza e pura poesia. A voz que dá brilho e cadência à híbrida experiência estética de Nequice é de uma feminilidade transbordante de quem tem sede e raiva, uma força vital cheia de empoderamento e determinismo. Uma literatura performática que, por vezes, quer ser prosa ou apenas versos. Mas isso não importa. Seja poesia ou prosa, este livro demonstra que a literatura no Brasil ainda pode nos surpreender. E o castelo de palavras de Passatuto é um exemplo de que a verdadeira grande arte literária não se contenta com a zona de conforto, do contrário está sempre out e anárquica dos valores pré-estabelecidos do mundo e até mesmo dos gêneros literários.