Quando Breno Accioly publicou o seu primeiro livro houve um certo rebuliço nos arraiais literários. Os contos de João Urso – mórbidos, violentos, atormentados – traziam alguma coisa nova à literatura brasileira, "em escrita e estrutura, como que uma coerente desordem", como observa Ricardo Ramos no prefácio. Pareciam obra de um russo perdido nos trópicos. Os volumes seguintes – Cogumelos, Maria Pudim, Os Cataventos – acentuaram as tendências do jovem contista, o clima de revolta contra tudo, o mundo e seus valores, as estruturas sociais, o comportamento do homem, a própria miséria da condição humana. A expressão se tornou mais sombria e pungente, a angústia ainda mais incômoda, como um espinho que se entranha na carne, resgatada porém por uma intensa e atormentada força poética. A crítica ficou perplexa. Tristão de Athayde distinguiu no universo do escritor um "terrível campo de transição entre a luz da consciência e a outra luz da insanidade". Graciliano Ramos, alagoano como Accioly, observou que a arte do conterrâneo lhe fazia pensar em coisas e figuras da "terra espinhosa" onde nasceram, inadaptadas a medidas, com "a bárbara firmeza do cangaceiro e a resistência agreste do mandacaru". Para Vinicius de Moraes, Accioly "veio abrir sobre as águas claras do conto brasileiro as comportas de sua alma tumultuosa, que habita nas trevas mais fundas e sórdidas do ser". Tumultuosos eram também os personagens do escritor, pinçados na pequena comédia humana da província: usineiros, agregados, prostitutas, humildes funcionários, duros, ásperos, mais instintos do que sentimentos, perplexos, à sua maneira, diante do grande mistério da vida. Mistério do qual o escritor parecia desdenhar, com o soberbo desprezo dos desesperados.