São escassas e pouco conhecidas as descrições da vida no Rio de Janeiro durante os primeiros séculos do descobrimento. Em Visões do Rio de Janeiro colonial, Jean Marcel Carvalho França compila 35 desses textos, que relatam as impressões de viagem de estrangeiros que passaram por estas terras. Esta antologia constitui uma fonte documental de grande relevância, oferecendo ao leitor um variado leque de informações sobre o cotidiano da época. O relato mais antigo apresentado data de 1531, constituindo uma das mais antigas referências à baía de Guanabara; a última, de 1800, praticamente encerra o período de isolamento imposto à colônia pela metrópole. As descrições variam em tamanho e conteúdo: umas proporcionam um detalhado panorama do Rio de Janeiro e dos cariocas; outras limitam-se a exaltar as belezas da baía. Cada narrativa é precedida de uma pequena introdução - contendo uma nota sobre a viagem e sobre o viajante - e seguida de um comentário sobre a edição escolhida (quando há mais de uma) e de uma pequena bibliografia. O avô do poeta inglês Lord Byron, um tipógrafo alemão, um astrônomo francês e até um ladrão e batedor de carteiras irlandês são alguns dos visitantes que estiveram no Rio junto com marinheiros, capitães, futuros engenheiros, comerciantes, missionários ou protestantes convictos, poetas desiludidos e boêmios. Todos escreveram sobre o que viram ou vivenciaram na cidade. Deslumbrados pela natureza ou perplexos pelos costumes, eles criticam a "falta de educação" dos indígenas, apontam o achincalhe nas transações comerciais, as propinas e o "jeitinho". Mas exaltam a beleza das mulheres, falam da variedade das frutas e dos animais exóticos. Quanto às traduções, Jean Marcel não hesitou em promover algumas mudanças na ordem das frases e na disposição dos parágrafos, de modo a facilitar a compreensão dos textos e a tornar a leitura mais agradável. Mas mesmo modernizando a linguagem, ele preserva com a máxima fidelidade possível a peculiaridade de cada descrição. No seu conjunto, estas narrativas permitem ao leitor não só obter um amplo leque de informações sobre o cotidiano de uma das mais importantes cidades da América portuguesa, como também acompanhar a gradativa construção de uma certa imagem do Brasil e do povo brasileiro que deixou profundas marcas no imaginário europeu e, conseqüentemente, no nosso.