A dimensão religiosa é congênita ao ser humano. No dinamismo da pessoa há uma ontológica abertura ao sobrenatural, ao sentido fundamental de sua existência. O ser humano é alguém criado e chamado a uma comunhão de intimidade com Deus, em qualquer estágio de desenvolvimento se encontre. Não obstante a modernidade secularizante querer tornar a religião politicamente invisível e teimosamente negar a força do sagrado, não se pode abafar e sufocar, por completo, a transcendência que habita a pessoa. O sagrado, como princípio último da inteligibilidade de toda realidade, é um traço instituidor do sistema simbólico da pessoa. Nela brotam pungentes e uma saudade infinita de Deus. Ela tem uma potência predeterminada para Deus. Em sua medida íntegra, dir-se-ia hoje holística, a pessoa aponta para alguma coisa além de si. Ela esconde dentro de seu ser próprio mistério de Deus. Nisto está a sua essência indefinível. Ela só é compreendida enquanto potentia oboedientialis para a vida divina. O fim natural do rio é perder-se no mar, como o fim natural da pessoa, destinatária da autocomunicação e auto-revelação de Deus, é perder-se nele.