Retórica era a disciplina que guardava, na divisão dos saberes da Antigüidade, os preceitos ou regras da arte de discursar. Recorde-se que os discursos tinham muito maior importância do que nos dias atuais, participando ativamente dos acontecimentos da vida pública, e que aprender a compreendê-los e produzi-los era parte fundamental da educação aristocrática, um requisito básico para o exercício da vida civil. Hoje qualificamos de retórica a falsidade hipócrita de discursos, sobretudo políticos, que dissimulam intenções de favorecimento particular em prejuízo do bem público. A formulação da retórica está situada em um número relativamente pequeno de autores, dentre os quais são de obrigatória menção Aristóteles, o anônimo autor da Retórica a Alexandre - longamente atribuída a Aristóteles, que foi preceptor de Alexandre -, Cícero, Quintiliano, retores menos lidos como Hermógenes e Aftônio, e autores como o Horácio da Epístola aos Pisões ou Arte poética e o Pseudo-Longino, autor do importante tratado Do sublime, os dois últimos textos não sendo o que podemos chamar propriamente de retórica mas que também ministram regras de discurso, mais particularmente dirigidas à poesia. Dentre essas fontes obrigatórias conta-se a Retórica a Herênio que, possivelmente por ter circulado em códices que incluíam textos de Cícero, foi atribuída durante muito tempo a este autor. Composta entre os anos de 86 e 82 a.C., a Retórica a Herênio é a mais antiga arte retórica escrita em latim que a Antigüidade nos legou e uma das obras de maior circulação na Idade Média. Esta é a primeira tradução da 'Retórica a Herênio' para a língua portuguesa, iniciativa de suas tradutoras, Adriana Seabra e Ana Paula Celestino Faria, mestres em Língua e Literatura Latina pela Universidade de São Paulo.