“Ela parecia flutuar”. Em êxtase, Agnes Arruda se depara com a Vênus de Willendorf no Museu de História Natural de Viena, Áustria. Era um encontro de deusas, mas talvez a pesquisadora, em franca catarse de se descobrir, ainda não se desse conta disso. E com razão. Afinal, há a inquietude doída de uma vida toda de não pertencimento. O preconceito ao corpo gordo fere como navalha na carne. Preconceito a uma mulher gorda, então? Por vezes vítima; outras, algoz de si mesma. Impossível dimensionar sem viver. E é justamente essa vivência que Agnes nos revela, com maestria, em “O Peso e a Mídia”. Fruto de irretocável pesquisa autoetnográfica, a autora nos coloca diante das muitas faces da gordofobia. Atenta e crítica ao apagamento do corpo da mulher gorda na mídia, aponta as raízes de uma sociedade gordofóbica ao longo do processo histórico da mutilação do feminino.