A paixão da instrumentalidade coloca a formação do inconsciente do lado do psicólogo, situando-o no usufruto de sua fantasia inconsciente, obstaculizando qualquer possibilidade de escuta. Tanto a moral como a paixão pelo procedimento estão em decorrência da posição do observador. Nesse ponto retomamos a questão na clínica no âmbito acadêmico onde se mescla o tratamento, o ensino e a pesquisa. Como não cair na posição do artista que retra­tava a patologia? Uma das possibilidades é de não economizar no mal-estar que o exercício clínico provoca. Como Freud postula que pelo processo de recalcamento a cultura não existe sem mal-estar, na clínica não se dá de forma diferente. Clinicar é se ver com a própria fantasmática provocada e instigada a cada laço transferencial, e isso não ocorre sem legítimo desconforto."