A escrita fragmentária – ou fragmentada – apesar de sua longa tradição, que remonta ao mundo antigo, é uma prática ou uma práxis textual que se consolidou na modernidade. De fato, desde os meados do século 19, e sempre se acentuando desde então, a escrita literária e também a filosófica, com inúmeros autores, foi adotada como práxis do fragmento, quase instituído como gênero autônomo. No Brasil, de longe, o campeão do fragmento é Machado de Assis, nos romances, contos e crônicas que publicou. Depois dele muitos outros, impossível de enumerar aqui, foram e estão indo na mesma direção, a confirmar que alguma coisa profunda liga o fragmento ao moderno. Quem sabe, a implosão da suposta unidade anterior do sujeito, da subjetividade e da fracassada pretensão intelectual e humana em abarcar a totalidade do mundo e do conhecimento acumulado.Como o autor destes Fragmentos é um sujeito muito culto e astucioso, que transita por diferentes e variados saberes, portador de sensibilidade especial para a vida em sociedade e sabe escrever, o leitor conta e encontra o prazer do texto, no sentido mais forte da expressão. Nestes tempos de mídia cavalar, esta leitura trava um excelente embate contra a alienação e a desumanização que nos afeta e humilha.