Há algo em comum entre as taipas os muros das serras do sul e as estradas de pedra da Estrada do Ouro que ligavam Minas ao Rio de Janeiro: são formados por pedras imperfeitas. Mas não bastasse essa constatação, resta outra, de outra ordem. Tanto as taipas como as estradas foram construídas por mãos humanas e olhares e toques inteligentes, pois vieram desses olhares e dessas pegadas de mão as constatações óbvias sobre que pedras deveriam vir antes, quais deveriam vir depois, e por quê. A poesia de Isaías Gabriel Franco é pétrea. Ora, do tamanho de um muro de arrimo; ora, do tamanho de um cisco no olho. Sejam do tamanho que forem, das louvações aos aforismos, essas pedras (no sapato, algumas vezes) não devem servir para o conforto. Antes, para o impossível a que os poemas sempre se dedicam, como a eternidade; antes, aos acidentes provocados pelas pedras que nos atravessam o caminho, tanto faz. Isaías escreve no poema Magma: A vida endurece os homens, / a poesia os liquefaz. É (...)