Contemporâneo de Sade, o terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755, teve enorme impacto no pensamento europeu, fazendo surgir no horizonte um imaginário catastrófico que veio a abalar os alicerces da racionalidade iluminista com furacões, naufrágios, tempestades, desabamentos e toda sorte de cataclismos. Um desejo de fim do mundo se precipitou então na sensibilidade coletiva, alcançando os anos Oitocentos com particular vigor, em especial no romantismo, para chegar ao século XX como um legado importante que alimentou o espírito inquieto das vanguardas. Depois da bomba atômica, porém, a paisagem sensível passou a testemunhar o declínio do sentimento da catástrofe e sua normalização como dado real, cuja tenebrosa evidência vem sendo dada pelos recentes desastres de Chernobyl e Fukushima. Por isso, diz Annie Le Brun, aquela tentação de fim de mundo que era induzida pelo desejo paradoxal de recriar o mundo foi embargada pela efetiva concretização da ameaça nuclear, cuja força de destruição parece ter se imposto ao nosso poder de negação. O sonho de devastação passou do infinito para a finitude, a ponto de privar a catástrofe do devir imaginário que ela sempre teve e de suprimir aquela parte de desconhecido implícito de que ela era a portadora. Como consequência, ficamos privados da possibilidade de representar os perigos que de fato nos ameaçam e, impotentes para sonhar com o que nos excede, tornamo-nos resignados diante dos excessos que nos sujeitam.