Diariamente você lê nas revistas sobre o nascimento de filhos (lindos e saudáveis) de artistas famosos ou jogadores de futebol milionários, assiste na televisão, além das novelas com finais felicíssimos, a uma infinidade de comerciais, mostrando famílias maravilhosas e extremamente sorridentes, comendo margarina, escovando os dentes, viajando juntas e unidas em magníficos carros. E os jornais mostram uma realidade mais dura, fazem questão de frisar que a desgraceira toda sempre acontece na periferia ou, quando acontece na parte nobre da cidade, é sempre porque o autor da barbárie é desequilibrado, doente mental ou algo assim. Então, você fica com a impressão de que todo mundo vive maravilhosamente, todas as famílias vivem em harmonia, ninguém jamais briga, discorda nem reclama de nada, ninguém chora e, se chora, é apenas a preparação para um final repleto de realizações plenas. As famílias nunca se divorciam e, quando o fazem, é sempre em grande estilo, com pensões milionárias e cobertura jornalística... Diante disso, você, que talvez não tenha um filho tão saudável ou bonito quanto os garotos dos comerciais, que não nasceu em berço de ouro como mostram os nascimentos dos "reis, rainhas, príncipes e princesas" fabricados pela mídia, que já cansou de brigar com sua esposa, já arranjou até uma amante e pensa em divorciar-se, ou você, adolescente, que nem sabe direito qual é sua opção sexual, enfim, você, que é apenas um ser humano normal e anônimo, fica achando que as desgraças só acontecem com você, que o resto do mundo vive às mil maravilhas e só você é vítima de ciúmes doentios, divórcios, filhos com problemas de aprendizagem etc. E, por imaginar que "só acontece com você", acaba ignorando o problema, deixando de analisá-lo e, desta forma, passa a vida sofrendo por uma questão que, se fosse encarada e, talvez, com a ajuda de um terapeuta, provavelmente fosse facilmente resolvida. Enfim, tudo isso geralmente acontece nas melhores famílias...