eu te observo, poeta, há noites em teu retiro, esquecido de si, lavrado pelas notícias do mar. o claror nos pulsos, teus sóis aindas em vísceras erguendo-se em canções, andanças, um violão que cruza a turquesa da estação mais quente, o lírio de sal nos teus lábios. dói num homem a mulher amada ali onde lhe dói o mar. nós já estivemos aqui antes e tu eras ave em meus pulmões de organza, e eu era passo em teus pés. dizíamos eis o início de tudo esta cidade: suas meninas dormindo inclinadas nas janelas, a rosa dos ventos ainda entregue às figuras do impensado, os cabelos em naufrágio sobre os parapeitos, casas afora, afogando gentes, ruas e avenidas. só se aprende o mar pelo que o mar devora. eu te observo, poeta, em teus escuros de retiro, entreaberto pela boca apenas teu vocabulário de óbulo de jaspe. pela rue du caire ou em tramandaí, no anúncio da vindima ou no elã, tu segues, e já todos os nomes do mundo me parecem pouco para dizer do outro(...)