Se, por um lado, como dizia Ferreira Gullar, o poema nasce do espanto, penso que pouco valeria, se ele, o poema, não causasse espanto no leitor. Temos, em Canção para os seus olhos e outros castanhos, a espantosa poesia de Angel Cabeza. Se pousares levemente a cabeça no riacho do meu tórax, ouvirás um alarido de preces. O espanto, em Angel Cabeza, não é do tipo É mesmo! Como eu não pensei nisso antes? O espanto, em Angel Cabeza, é do tipo Caramba! Como esse cara escreve isso, desse jeito? O espanto é do leitor. É inverno lá fora, mas por dentro uma queimadura de plumas. Permita-se. Eis que algum dia entregarei ao combalido corpo a unção do martelo. O poeta, seguro de seu ofício, domina a Língua. Saudade é a eternidade nas pálpebras. A obra que você tem em mãos é de exímio encantador de palavras aproveite o espetáculo. Cláudio B. Carlos