Em Ópera Negra, Martinho da Vila exalta as qualidades da raça negra - qualidades humanas, musicais, poéticas -, reivindica igualdade de oportunidades na sociedade e aponta a discriminação racial e social, sobretudo a dirigida às classes pobres, os favelados, vítimas de uma dupla opressão: policial e dos bandidos. É uma obra de denúncia e combate, mas não de luta agressiva, de ódio racial. Martinho reivindica apenas aquilo a que o negro tem direito, como cidadão brasileiro, e o incentiva ao combate. Combate suave, de quem mais tarde, vencedor, possa dizer, como São Paulo: "Combati o bom combate". Ópera Negra simula a representação de uma ópera no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em dia de casa cheia. Divide-se em três atos e um epílogo. O primeiro é uma louvação à raça, com a apresentação de negros que marcaram a história brasileira: Cruz e Sousa, Lima Barreto, Luís Gama, João Clapp, André Rebouças, Zumbi dos Palmares, e tantos outros. Os dois atos seguintes contam a história de um jovem que se torna bandido, envolvido pelo ambiente, e não consegue mais se libertar. Mesmo regenerado, a sociedade não o aceita. Uma história de todo dia nas favelas cariocas e de outras cidades. Nascido em uma pequena cidade do interior do Rio de Janeiro, Duas Barras, Martinho conhece o problema de perto. Ainda criança, a família migrou para a cidade do Rio de Janeiro, fixando-se na Serra dos Pretos Forros. Após exercer algumas profissões, despontou em um festival de música, em 1967. A partir daí, como cantor e compositor, acumulou sucessos, tornando-se um dos campeões de venda de discos no país. Com vários álbuns editados no exterior, é artista admirado em Portugal e nos países africanos. Já na maturidade, dedicou-se à literatura, criando a sua própria editora. Ópera Negra é o seu quarto livro.