Os três contos mordazes e surpreendentes que compõem este volume bem poderiam ser capítulos de um romance autobiográfico. Narram uma vida insignificante na qual nem mesmo os sonhos são audaciosos, mas apenas mesquinhos, convencionais e surrealistas. Nenhum Mondrian, nem um único Malevitch, como afirma o narrador. Não surpreende, portanto, que o leitor se depare sobretudo com fatos voláteis, inconsequentes, vazados em um estilo pernóstico e rebuscado que parece querer disfarçar a banalidade de sua rala biografia, que não é nenhuma Recherche esnobe, recheada de madeleines alucinógenas. Até onde consiga enxergar, não perdi tempo algum, como iria eu procurá-lo? Onde? Quando?. Aí reside a comicidade do livro, que tem uma ironia ácida à moda de Machado de Assis e de Eça de Queiroz. O que de fato o narrador parece apreciar são os dias iguais, repetitivos, sobejamente vazios, a conversa fiada infinita, as desavenças e ódios súbitos, os pequenos êxtases e desvarios que caracterizam [...]