O mito não é uma crença. Ele procede de uma prática que tem em vista a felicidade. Desembaraçado das limitações da realidade, recorrendo a maravilhas e a metáforas, ele permite explorar os limites do imaginário psicológico e social. E mesmo o fato de exercer uma função identitária não o impede de se transformar continuamente. Esta é a compreensão do universo mítico defendida com maestria por Philippe Borgeaud. Encantado por essa criatividade incessante que o mito oferece, à espreita das tramas comuns entre os relatos, o autor propõe neste livro uma bela análise da história do labirinto, da infância no mel, do primo de Orfeu... Em cada caso, trata-se de estudar, segundo o contexto, as diferentes recepções desses relatos. O leitor acaba convencido de que o mito não é, fi almente, nada menos que a resposta múltipla, nunca definitiva, às questões que tradicionalmente elaboramos sobre o mundo e sobre nós mesmos.