No Brasil, o período marcado pela ditadura civil-militar também representou um momento de virada nas formas de pensar e fazer dança. Cada vez mais, artistas se contrapunham à predominância da técnica e concepções clássicas, experimentando práticas descentralizadas de criação e tomando o corpo como espaço de invenção de liberdades.Um lugar propício para tais experimentações foi o Teatro de Dança Galpão, criado em São Paulo no final de 1974 para abrigar aulas, apresentações e outras atividades ligadas ao que se chamava então dança independente. Mesmo contando com financiamento estatal, o local serviu para a invenção de sociabilidades interceptadas pelo regime ditatorial, sempre atravessadas pela prática de dança. Por meio dos vestígios deixados pela experiência do primeiro ano de funcionamento do Teatro de Dança Galpão, como as memórias de pessoas que o habitaram e alguns registros guardados por elas, o livro faz emergir uma história negligenciada por algum tempo e que agora, felizmente, vem sendo retomada por alguns outros estudos. Aqui, mais do que apresentar tal história, o que se faz é torna-la presente, permitindo que o pensamento seja habitado pela dança.A articulação entre dança e ciências sociais foi o que motivou a realização do trabalho apresentado neste livro. Assim, volta-se aos governos que pretendem se impor sobre os saberes e práticas da dança para se pensar as possibilidades de resistências que podem ser inventadas a partir dela. Resistências que não se enquadram nas definições estanques da ciência política clássica, mas que são capazes de inventar movimentos indomesticáveis cuja potência se faz presente de alguma maneira ainda hoje.