Toda boa literatura é, de algum modo, o descortinamento de um segredo. Cada personagem é uma questão, e cada movimentação no tempo e no espaço imaginários, uma forma de percorrer possibilidades e abrir caminhos. No campo oposto à literatura, o mundo das letras, costuma-se colocar o mundo da álgebra, dos números. Mas, se há algo em comum entre letras e números, é essa possibilidade de fazer nascer uma linguagem que ao mesmo tempo propõe e resolve enigmas. Paloma Franca Amorim, neste seu primeiro romance pensado originalmente como tal (porque Eu preferia ter perdido um olho é, de certo modo, um romance construído pelo feliz amálgama de contos e crônicas), propõe, assim, desde o título, O Oito, um espaço a ser desvendado. O Oito é um bar de Belém, capital do Pará, que reúne uma juventude em transformação. Uma geração, registrada por Paloma, que se confronta com preconceitos e violências estruturalmente arraigados, com diferentes formas de produzir dor e injustiça.