Antonio Carlos Secchin estreia na literatura para crianças com um poema cheio de significados. Em O galo gago, o autor apresenta uma visão curiosa sobre o fluxo do tempo e como é essencial que depois do dia venha a noite e, seguida a ela, venha novamente o dia. Se não fosse mais assim? Se Sol e Lua não percebessem a hora de chegar e a hora de ir? E, o mais importante, se apenas o galo fosse responsável por avisar Sol e Lua e não pudesse cumprir sua tarefa direito? Em um compasso bem ritmado, Secchin conta a história de um galo que não consegue cantar e, por isso, bagunça a vida do Dia, da Noite e dos outros animais. Mas, em vez de ser rechaçado pelos outros bichos, o galo recebe ajuda de seus amigos. Todos estão empenhados em fazer o Dia e a Noite acontecerem para que a vida possa seguir normalmente. Há múltiplas possibilidades de leitura em O galo gago, a começar pelas rimas, por si só um convite à diversão dos leitores. Com humor, Secchin propõe uma solução para o problema do galo a partir da empatia e do senso de comunidade. E pra que assustar o galo?/ Vamos chamá-lo mais tarde./ Quem sabe com nosso aplauso/ ele vira um cantor de verdade, diz o bicho da goiaba. Num certo momento, todos os bichos emprestam seu canto para o galo. E pensando juntos, expondo argumentos e ideias, conseguem tirar o coitadinho da sua tristeza e ainda trazer o Dia de volta. Que mal há em o papagaio, que imita todas as vozes, imitar também o canto do galo? Nada de periquito/ para cantar ao Sol!/ Bastava o papagaio/ soltar um cocoricó bemol, sugere a tartaruga. A festa dos bichos fica mais animada com as cores de Clara Gavilan. Os traços leves da ilustradora conferem ao livro uma atmosfera de inocência, quase naïf. Todos os personagens são bastante expressivos, o que favorece a identificação da criança com o texto.Poeta, ensaísta e crítico literário, o acadêmico Antonio Carlos Secchin tece uma homenagem a um de seus mais caros objetos de estudos: o também poeta João Cabral de Melo Neto. No livro, Secchin parte do verso “um galo sozinho não tece uma manhã” para contar a divertida história da Noite, que deseja ir embora, mas só depois que o galo cocoricar. O problema é que o galo é gago, e acaba impedindo o Dia de raiar. Os bichos se assustam e, juntos, pensam numa solução criativa para a questão.