Só na poesia o poeta se entrega, se abre, escancara. Quando o poeta é amigo, daqueles que convive com a gente, não conseguimos vislumbrar a profundidade em que se joga, se mostra, goza despudoradamente... Léo Nolasco transita entre o masculino e o feminino com tal despudor, com tamanha coragem, que dilacera nossa capacidade de autoanálise e nos faz sentir masculinas demais. Não sei se prefiro a forma ou o conteúdo do poeta Léo. Ele tange no imo, mesmo quando brinca com as palavras. Mesmo quando dentro de sua desorganização, se organiza, pois é no sensível que o poeta encontra o mundo que procura. Como pode uma transformação tão hedionda? Um ser que vai às raias da ternura e depois desabafa todo o seu lado escuro com a maior auto benevollência? Ele mesmo diz: "A poesia do instante perdoa o que a prudência da razão condena". A mulher "nolasqueana", em seu desespero, não sente verbonha de ser burra, incrédula, tapada. Da transa casual até afogar-se no amor que é compromisso, dependência, vínculos pesados. Um afogar-se com medo do (A) Mar. O percurso do poeta é andar na contramão. Caso contrário cai no lugar comum e perde a genialidade. Está aí o antropólogo, poeta, criador de personagens, especulador da mente e do coração humanos. Está aí esse poeta que tira o fôlego de pobres mortais, como somos.