O tempo que nos salva de morrer em vida é o intervalo, a pausa, o fôlego: tudo o que fica invisível nos livros de história, nos documentários e nas reportagens, e só ganha manifesto na poesia. das vezes que lutamos sorrindo é como a captura de lacunas no tempo que Eduarda Vaz, conhecedora de hiatos, reúne com uma escrita afiada e segura. Eduarda aponta soluções para captar este tempo escorregadio, e nelas a boca é a ferramenta protagonista: o zelo dedicado em lamber feridas, a risada que quebra o infinito silêncio, a mordida na maçã proibida, a voz libertada no grito de um corpo em óbito, a fofoca propagada pelos canos hidráulicos de um prédio antigo. Tudo passa pela boca e nos deixa de boca aberta, com tamanha sinceridade escancarada. Esta é uma obra que chega para narrar o que existe no entre. Entre paredes, janelas, guerras e festas. É no hiato que se celebra a saudade, a espera, o cansaço. É no hiato que se procura um colo pra chorar e se chora. É no hiato que o (...)