A obra que ora vem a público traz uma visão a respeito dos anos 1980, numa vertente crítica que leva a poesia de volta para casa, quando chamar uma obra de lírica, já implicava na junção poética e musical. A geração 80 é movimento e consegue parar a beleza com a escrita. Ou pela escrita revelar a beleza do sujo. O poeta é dissonante. Não se teria uma poética, se não transformasse o feio, o sujo, o nojento, a dor, o sofrimento em lirismo. Era mais do que preciso transformar o tédio em melodia, era preciso inventar amores, era preciso inventar canções. Era preciso mater-se vivo e a vida foi mantida pela escrita e pelo canto. "Porque o meu canto é a minha solidão/É a minha salvação/ Porque o meu canto é o que me mantém vivo", finaliza a última estrofe, da última música, do último lado, do último disco de Cazuza - como cantou Renato Russo, no dia da morte do seu companheiro de travessia.