O vaivém na vida de um estabanado que quer se redimir. Uma compulsiva que checa todas as tomadas antes de sair de casa. Uma esposa que, ao se separar do marido, busca obsessivamente a utopia da divisão exata de bens. Em histórias de temática simples, Antonio Carlos Varela realça características que nos são familiares para, de forma leve e bem-humorada, conduzi-las à fronteira entre o cômico e o patológico. Onde situar esse limite? - eis o divertido desafio proposto ao leitor. Seus personagens parecem transportados da vida real para as páginas do livro, levando na viagem suas manias, dores e prazeres do dia-a-dia. A todo momento esbarramos com eles em nosso cotidiano: o ascensorista que não consegue terminar as frases, a mulher carente diante de um voyeur ou o homem ao celular que expõe suas mazelas no meio da rua. O autor enxerga a trajetória dos personagens pelo prisma da curiosidade, fazendo de cada cena trivial um laboratório de observações singulares acerca do ser humano. Os enredos partem do particular para revelar situações de caráter universal, desde o ritual de uma reunião de família até o casal em crise que cai na esparrela da segunda lua-de-mel. Mas por mais comuns que sejam as experiências, cada protagonista as vivencia de uma maneira invulgar, contrapondo fantasia e realidade, mistério e lirismo. Embora fatos do passado sejam recriados pela memória do autor, o resultado final compõe um panorama de emoções que, distantes da sombra do saudosismo, trazem à luz solar a centelha da novidade. Como ele mesmo diz, o sol é do presente e acende os planos do futuro - o sol não tem passado.