Entre o eu, o mundo e o amor há entrelinhas tão miúdas, que só o tempo é capaz de ler. Escrever é uma tentativa de contornar o tempo, fingir que somos capazes de compreender os desenhos que ele faz em nós. Escrever é descaber, como diz Luciana. Mas caber é tão pequeno, não é? A casa muda de tamanho em silencio. A gente nem percebe. A casa que cabia a gente, de uma hora para a outra, perde em precisão. E, então, caber não comporta. É preciso mudar de casa, para outra maior, que em breve também ficará pequena. Diz-se que o nosso corpo é nossa casa. Mas a verdade é que a alma é a casa, o corpo são vários cômodos. Haja mar para tanto desconforto. Poesias Mareadas, de Luciana Soares, convida a gente a navegar pelas casas antigas, pelas novas, pela casa dos outros. E sentir nossa alma navegar. Às vezes, para escrever, é mesmo preciso desinventar o tempo, para que sejamos nós a criar os cinemas de nossas vidas. [...]