Pensar as configurações do culto a Inanna nos permite lançar outro olhar sobre nossas formas de sacralidade hodierna, nos faz questionar nossa maneira de perceber o sagrado e ter contato com ele. Em épocas em que se privatiza o divino e se impõe a este, aspectos e atitudes de ideal masculino, outras maneiras de compreender o sagrado entram em cena, demonstrando que Ele, pode ser Ela, e que Ela não precisa ser necessariamente mãe e esposa obediente, fugindo assim dos padrões referências que excluem desejos e anseios diversos. O passado nos mostra que havia uma deusa para as prostitutas, as travestis, as núbeis e aquelas ativas sexualmente independentemente de suas classes sociais, enfim, para práticas e formas de sexualidade diversas, uma vez que a sexualidade era uma categoria do sagrado nessa cultura. Nas características da divindade nos deparamos com as personalidades dos devotos, percebemos que seus epítetos e atributos relacionaram o mundo divino aos fenômenos do mundo profano, bem como as práticas cotidianas de seus cultuadores. Assim, imagens e símbolos que compunham o universo religioso da divindade foram atribuições e construções que se perpetuaram ao longo do tempo relacionadas à realidade de seus primeiros devotos e aqueles cativados ao longo dos milênios. Assim, olhar o passado nos permite refletir sobre nossas práticas sagradas e profanas. Inanna nos lembra de que o caminho que nos leva ao sagrado são múltiplos.