Este é um livro de economia que se escreveu contra a contabilidade enquanto método que pretende determinar custos que afectam o futuro. É um livro que lida com a incerteza do futuro rebelando-se contra a segurança do passado. A economia, enquanto ciência das escolhas e decisões, é uma ciência de natureza prospectiva, que procede estabelecendo hipóteses alternativas sobre preferências futuras de consumidores e processos de produção, em contexto de incerteza e risco. Como a incerteza associada ao futuro é muito vasta, nem todas as abstracções hipotéticas alternativas podem ser consideradas. É necessário usar procedimentos heurísticos que diminuam o vasto campo do possível, reduzindo-o às conjecturas logicamente plausíveis. A contabilidade, ao contrário, é retrospectiva, visa o passado. Melhor, a contabilidade pretende explicar o futuro com base no passado; o futuro seria apenas uma qualquer combinação linear de eventos passados. Esta pretensão supõe certeza e continuidade, e os modelos de certeza e equilíbrio são irrelevantes numa economia em permanente mutação onde não há lugar para a regularidade e previsões lineares. A história é uma fonte de ensinamentos importante: o passado ajuda a economia no desenho das hipóteses, mas não pode decidir cientificamente sobre o futuro. A história é contingente e, frequentemente, eventos acontecidos nas profun-dezas do passado têm maior efeito nos resultados finais do que eventos mais recentes, frustrando qualquer previsão credível; muito daquilo que é magnífico no presente decorreu de acontecimentos remotos que na sua origem foram fortuitos, triviais, secundários e risíveis, e que, na altura em que aconteciam, ninguém se atreveria a vaticinar o seu sucesso de agora. O futuro pode emergir do passado numa forma tão inesperada que dificilmente se reconhece nesse passado de onde fluiu; tal como o vapor de água dificilmente se reconhece na estrutura molecular da água donde proveio. Neste sentido, o passado não tem futuro. Este livro é sobre a natureza dos preços e custos relevantes necessários para testar a existência de subsídios cruzados. O teste de subsídios cruzados consiste tão-somente na comparação entre receitas (preço) dos serviços e os seus custos isolados de produção. O livro mostra que os preços relevantes são os preços de mercado e os verdadeiros custos económicos são custos de oportunidade prospectivos, que podem ser determinados por simulação de hipóteses alternativas de produção, como, de resto, a teoria económica sugere. A indústria de telecomunicações serviu de pretexto para, capturando a sua estrutura de custos, aplicar a economia à detecção e medida de subsídios cruzados entre alguns dos seus serviços. O autor utilizou, na determinação dos custos isolados de oportunidade dos serviços de telecomunicações, um modelo de custeio económico de processo de engenharia que usa um procedimento heurístico que "poda" o espaço geográfico de uma rede de telecomunicações. O livro conta também o fracasso dos métodos contabilísticos no teste de subsídios cruzados. JOSÉ FERNANDES SOARES, doutor e mestre em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade Técnica, licenciado em Gestão e engenheiro de telecomunicações pelo Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, é professor no Instituto Superior de Estudos Intercul-turais e Transdis-ciplinares do Instituto Piaget. Ao serviço de uma empresa operadora e da agência na-cional reguladora, tem trabalhado, desde há três décadas, na indústria de telecomunicações nas mais diversas actividades desta indústria, desde instalação e reparação de equipamentos electrónicos a estudos de organização do trabalho e concepção de modelos de custeio.