Ao longo do século XIX, a percepção sobre doenças e a maneira de lidar com elas em diferentes grupos sociais passavam por um entendimento muito integrado do funcionamento do corpo e do espírito, da concepção de doença e cura relacionada a ideias de feitiços, ou de ligações com o sobrenatural, com deuses e santos ou com problemas espirituais. Por outro lado, o entendimento integrado entre corpo e espírito, com relação à saúde, tão comum no país, explica muito da popularidade dos agentes de cura entre os pacientes, que temiam os médicos acadêmicos e suas atuações. As práticas dos curandeiros examinados passam por benzeduras, geralmente acompanhadas por orações, bafejos, cuspidelas e aplicações rituais de determinados materiais valorizados pela medicina popular, contando também com o poder da palavra dita e da palavra escrita. O convívio prolongado da autora com as religiões afro-brasileiras, seu conhecimento sensível dessas religiões, além de sua formação enquanto historiadora, é em parte responsável pela singularidade desse livro. Ao observar e registrar, de um lado como ¿nativa¿, e de outro como historiadora, esse universo das práticas alternativas de cura, a autora apresenta um universo bastante complexo sobre as formas de se entender as doenças e as práticas de cura dos africanos escravizados na cidade do Rio de Janeiro Imperial, a partir da metade do século XIX. Podemos dizer que ela evidencia, em seu texto, uma sensibilidade etnográfica como observadora e como participante. Seu trabalho pode ser definido como uma espécie de etnografia retrospectiva, apresentando dados a partir de um excelente levantamento em arquivos e na seleção de uma bibliografia especializada. Seu conhecimento pessoal sobre essas religiões é fundamental em sua análise.