A biopolítica submete o corpo a golpes de imagens e de slogans, mas este sempre escapa às identificações prontas para revesti-lo. O gozo o transborda, o surpreende, o traumatiza, e a psicanálise o acolhe pelo que fala desse encontro traumático. Na experiência de uma análise, parte-se do sintoma que faz sofrer, buscando-se reduzi-lo por meio de seu sentido, de sua história, de sua lógica, a fim de que possa escrever-se de outro modo e produzir efeitos de criação, não necessariamente artísticos. Trata-se, sobretudo, de conceber uma língua apta para alojar o gozo que incide no corpo falante. Despidos não apenas os devaneios do hedonismo, como também os impasses do conformismo e a sua permanente sombra de segregação, resta ao sujeito suportar o corpo que tem e, apoiando-se na escrita de seu sintoma, fazer valer a sua presença entre os discursos estabelecidos, sobrelevando o ser, os sortilégios à espreita e as derradeiras seduções paternas.[...]