Poucos escritores conseguem a proeza de se tornar populares fazendo literatura de altíssima qualidade. Um caso raro é o inglês Graham Greene, autor de livros já clássicos na prosa do século XX, como O poder e a glória, O cerne da questão e este O americano tranqüilo. O motivo é simples: Greene lança mão de tramas detetivescas e intrigas de espionagem internacional, mas injeta nesse gênero associado à literatura de entretenimento o romance policial uma dimensão profunda, que expõe questões sobre inocência e culpa, pecado e expiação, desejo e renúncia. A dimensão espiritual ou metafísica de sua literatura foi muitas vezes atribuída ao fato de o escritor ter se convertido ao catolicismo em 1926. Greene, entretanto, sempre rejeitou o epíteto de romancista católico, empregado pela crítica como se ele fosse um religioso buscando temas literários adequados a sua crença. Ao contrário, o autor de Os farsantes e O condenado (ambos publicados pela Editora Globo) foi um escritor no sentido forte do termo, que procurou estar em contato com as paixões humanas naquelas situações extremas nas quais o crime e a santidade se aproximam.