Aos leitores familiarizados com o ensino de Jacques Lacan, a referência ao termo passador revela imediatamente uma posição do autor deste livro quanto às relações entre o psicanalista francês e Georges Politzer, figura de envergadura crítica fundamental na história das contribuições da obra freudiana para o projeto de fundação de uma psicologia concreta, na década de 1920. Mais ainda, delineia os contornos do percurso da entrada da psicanálise em solo francês pela via de uma relação estreita com o surrealismo, enlaçando de modo inarredável o destino da psicanálise ao da literatura, se esse já não tivesse sido o sal da descoberta freudiana do inconsciente. Que o texto que ora vem a público tenha se urdido no contexto institucional da universidade revela a vocação da universitas para o acolhimento e o reconhecimento do que tem valor. Lugar de saber que pode, às vezes, deixar-se perfurar pelo que insiste em não se escrever.