É impossível deixar de comparar “Os samurais”, de Julia Kristeva, com “Os mandarins”, o clássico que celebrizou Simone de Beauvoir e lhe rendeu o prêmio Goncourt, em 1954. Os dois romances se referem aos tempos de glória de Paris e da intelectualidade francesa, apresentam os personagens da época e discutem questões como a condição da mulher e filosofia política. No entanto, se a geração de Simone de Beauvoir é engajada e combativa, a de Julia Kristeva tem uma política mais sutil, à oriental, em que sua alegria de viver considera a vida como arte marcial. Os personagens de Kristeva não são portanto filhos dos de Simone. Sua descendência mais direta são os pensadores chineses que sucederam os guerreiros japoneses. Vivem o auge da euforia maoísta e boa parte escolhe a China como um território redentor. Julia Kristeva não pôde evitar o tom autobiográfico neste seu primeiro romance. A intelectualidade francesa se surpreendeu com a força ainda desconhecida desta autora, notável por seus trabalhos teóricos e depoimentos pessoais. A intelectual respeitada revela-se romântica e sentimental. O livro trata do amor com a delicada poesia de uma bem elaborada filosofia sobre sensibilidades humanas a respeito do tempo, da vida e da morte.