Não somente de abstrações se alimentam os versos de Rui Rasquilho. Há neles as águas ? o rio e o mar, com ondas, velas e veleiros ?, há dunas e horizontes, e há fogo, luz e chamas, e borboletas coloridas, e há, sobretudo, a presença absolutamente dominadora de uma figura feminina, do seu corpo, do seu rosto, olhos, lábios, seios, coxas, ventre e gestos, que não se nomeia senão por um tu criado pelo sujeito lírico que com ele contracena em poemas acentuadamente eróticos, mas nunca vulgares, desde o primeiro, ?De repente?, todos eles valorizados por metáforas altamente expressivas, como, por exemplo, a do relâmpago que surge no fecho deste: ?De repente / Um relâmpago / No curso das águas?, como em ?Lentamente sobre o fogo?: ?Um relâmpago / No flanco dos nossos corpos / E as tuas mãos / No patamar da noite em chamas / Um princípio de fulgor / E as palavras proibidas // Avanço lentamente sobre o fogo.?