Se existe algo que a srta. Beatrice Hempel acredita é que ela é uma terrível professora. Para tentar reverter esse quadro, a jovem faz de tudo um pouco. Libera os alunos cinco minutos mais cedo às sextas-feiras, começa o ano sempre lendo um livro que fala sobre o quanto os pais podem ser malvados com os filhos e faz de conta que não ouve quando os alunos falam mal dos outros professores. Ela não poderia estar mais equivocada, como se percebe ao longo da leitura de O aprendizado da srta. Beatrice Hempel - Diário de uma jovem professora, finalista do PEN/Faulkner Award em 2009. Os alunos adoram a professora criada por Sarah Shun-Lien Bynum, uma das 20 melhores ficcionistas norte-americanas da atualidade, segundo a prestigiada revista New Yorker. Afinal, que outro professor seria capaz de oferecer à sétima série aquele livro de Tobias Wolff, repleto de palavrões? Nem mesmo os pré-adolescentes sentiram-se confortáveis no início. Porém, como os próprios pais e mães observaram na reunião de pais, havia muito tempo que os alunos não liam um livro de forma tão voraz - se é que alguma vez isso havia ocorrido. A própria Beatrice Hempel tinha uma atração especial por palavrões. Em casa, o pai a proibia terminantemente de dizê-los. Como descreve a autora, ela até desejou um dia se tornar uma pessoa de boca imunda, mas não teve muito sucesso. Ao longo das páginas, a jovem professora vai relatando situações aparentemente corriqueiras da escola, enquanto recupera aqui e ali lembranças de sua própria infância. Reflete que na escola as crianças são livres para ser o que bem quiserem e sonhar com o futuro que acharem mais interessante. Beatrice Hempel lembra-se de quando ela mesma frequentava o colégio: "O maravilhoso na escola é isso, quando você vai bem no teste de matemática, pode um dia vir a trabalhar na Nasa, se o diretor do coral pede para que você cante um solo, já se imagina a Mariah Carey..." Enquanto acompanha pequenas conquistas dos alunos dia a dia e algumas dela mesma, a protagonista revela ao leitor alguns dos acontecimentos de seu passado, não apenas as interações com o pai, mas seus relacionamentos amorosos e mesmo relacionamentos com seus alunos, a quem normalmente trata com a reserva e distância que os papéis de ambos sugerem. A partir dessas pequenas histórias, a autora vai apresentando o caminho de transição percorrido por Beatrice Hempel desde as inseguranças do início da carreira até atingir a maturidade. Sarah Shun-Lien Bynum divide os relatos em oito capítulos, escritos de forma elegante e disciplinada, talvez como a própria Beatrice Hempel faria, caso ela se sentisse confortável escrevendo pareceres - especialmente aqueles sobre o comportamento e a evolução de seus alunos. A autora constrói assim um romance delicado, mas que reflete a complexidade e as nuances dos sentimentos e das relações humanas.