Palladio foi o principal intérprete de uma cultura arquitectónica consolidada depois dos primeiros decénios de Quinhentos. No âmbito da expressão formal produzida no contexto particular de Veneza e da sua região, foi tirando saberes das experiências dos arquitectos precedentes que cruzaram aquelas terras no seu tempo de vida, como Giulio Romano vindo de Mântua, Sanmichele de Verona ou Sansovino de Florença. Ou mesmo um divulgador de arquitecturas clássicas com pretensões teóricas como Sebastião Serlio, chamado como todos a Vicenza para se pronunciar sobre a reconstrução do arruinado Palazzo della Ragione. Considerado o homem necessário no momento certo, Palladio descobriu o modo de fazer que reencontrou a ideia de grandiosidade clássica do império romano, dando expressão à expectativa progressista e transformadora da burguesia veneziana interessada na exploração dos campos agrícolas estendidos a norte do rio Pó. A arquitectura de Palladio sintetizou respostas às necessidades reais através do praticismo operativo e dos valores simbólicos associados à definição da nova cultura artística, num projecto global que ajudou a transformar as amplas paisagens da Terra Firme. Pelo rigor, simplicidade de meios e geometrismo elementar das suas concepções, pelo recurso à memória dos imaginados monumentos romanos, pela generalização dos valores identificados com a produção da obra de arte tornada extensível à realização das mais simples construções residenciais, transformou-se no exemplo a seguir e no arquitecto que acabou por marcar fortemente a fase final do Renascimento no norte de Itália. Para isso contribuiu de algum modo a enorme quantidade de Ville efectivamente concretizadas, casas agrícolas, palácios e palacetes espalhados por toda a região que vai de Verona a Veneza, mas também porque deixou em livro escrito e desenhado os ensinamentos e modelos que muito contribuíram para a popularização dessas arquitecturas.