A Mata Atlântica é um bioma de elevada biodiversidade e alto nível de endemismo de espécies, considerado um dos principais hotspots mundiais (áreas com elevada diversidade biológica, alto número de espécies endêmicas e, ao mesmo tempo, sob grande pressão de destruição). Devido à degradação de hábitats, este bioma foi reduzido a apenas cerca de 7% de sua área original. Como resultado, muitas espécies da fauna têm sido perdidas, algumas antes de sequer serem conhecidas pela ciência. Existem cerca de 200 espécies de répteis conhecidas para a Mata Atlântica e destas, 110 são consideradas endêmicas a este bioma. Das cerca de 130 espécies de répteis que ocorrem no Estado do Rio de Janeiro, 48 são endêmicas ao bioma Mata Atlântica. Em relação às serpentes, existem cerca de 75 espécies na Mata Atlântica, das quais 59 são endêmicas a este bioma. Estes valores mostram a elevada taxa de espécies endêmicas que ocorrem na Mata Atlântica, grande parte das quais estão, hoje, restritas aos remanescentes florestais deste bioma. O Município do Rio de Janeiro, apesar de estar inserido na Região Metropolitana do estado, ainda mantém importantes remanescentes florestais de Mata Atlântica. Independente da localização destes remanescentes junto a grandes centros urbanos, há muito pouco conhecimento sobre a fauna e a flora que abrigam. Entre estes remanescentes destacam-se as florestas que recobrem o Maciço do Gericinó-Mendanha. Para as serpentes desta região não era conhecida sequer uma lista introdutória. As serpentes constituem um grupo animal de elevada importância biológica nas comunidades em que vivem, especialmente por, em geral, constituírem predadores de topo de cadeia ecológica, controlando as populações de vários outros grupos animais (por exemplo: roedores, anfíbios e insetos). Contudo, as serpentes da Mata Atlântica enfrentam fortes ameaças à sua sobrevivência. Além dos problemas decorrentes da destruição de seus hábitats, há ainda a perseguição seguida de morte que é comum ocorrer quando um indivíduo deste grupo é encontrado por humanos. Dessa forma, é importante aumentar o nível de conhecimento sobre as espécies de serpentes que vivem nestes remanescentes e sobre sua biologia, de forma a facilitar ações de manejo e conservação deste grupo da fauna. O conhecimento sobre elas mostrará que a maior parte não oferece nenhum risco às populações humanas. Na presente publicação, apresentamos uma primeira aproximação ao conhecimento das serpentes que vivem na Serra do Mendanha e disponibilizamos informações sobre sua biologia, as quais possam facilitar ações de conservação deste grupo de répteis nessa região.