A problemática da violência sempre foi um fator presente nas sociedades latino-americanas. A configuração dos Estados como instâncias mais fortes do que a sociedade, numa tendência de privatização do espaço público pelos clãs, foi a causa básica do fenômeno. É a herança ibérica que, superada no Velho Mundo, ainda não foi vencida em terras americanas. É fator constituinte do denominado "custo Brasil". O Estado, como frisava Raymundo Faoro, sempre teve donos. Ou como apontava Oliveira Vianna, a ausência de espírito público, essa é uma das marcas registradas na nossa cultura política. Até o final do século XX, essa realidade deu ensejo a Estados em que o compadrio era a lei que comandava o preenchimento de cargos, com toda a seqüela de falta de visão nacional e ausência de patriotismo. O patotismo, na América Latina, sufocou o patriotismo. Patotismo ou clientelismo que deu ensejo, ao longo do nosso Continente sul-americano e também na América Central e no México, às várias gerações de compadres que dominavam a ferro e fogo. Resquícios dessa pesada herança são a ditadura de Fidel Castro em Cuba e o populismo dito bolivariano do coronel Chávez na Venezuela. Embora tenhamos caminhado, no Brasil, em direção à consolidação de instituições democráticas, notadamente ao longo dos últimos vinte anos, não podemos negar que o patrimonialismo ainda grassa na nossa cultura política. São as várias clientelas que, no recente ciclo de abertura e de amadurecimento democrático, têm preenchido os cargos federais com amigos e apaniguados dos Presidentes, fenômeno que tem dado ensejo às várias "Repúblicas" que caracterizam a nossa história recente: "República do Maranhão", "República das Alagoas", "República do pão de queijo", "República do tucanato paulista", "República dos companheiros"...