O jornalista Percival de Souza relata a vida de Fleury, o mais temido agente da repressão militar, denunciando o horror e os abusos cometidos durante a ditadura O livro. Se o mistério conduz ao medo, é preciso trazê-lo à tona e desvendá-lo. Essa foi a missão a que o jornalista investigativo Percival de Souza se propôs ao escrever a biografia do Dr. Fleury, o mais temido agente da repressão militar contra ativistas de esquerda. Autópsia do Medo Vida e morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury relata em 650 páginas as muitas faces do criador do Esquadrão da Morte e uma das maiores autoridades do DOPS, a polícia política. O livro revela fatos novos, documentos secretos, depoimentos surpreendentes, mergulha nos porões da repressão, localiza militantes revolucionários e mostra os bastidores da guerra implacável entre guerrilheiros, militares do DOI-CODI e agentes do DOPS. Vivi a turbulência do período, as batalhas campais da rua Maria Antônia, a preocupação pela prisão de tantos companheiros, a dor pela morte de vários deles, a guerra do sistema contra tudo o que fosse contestador, conta Percival, ele próprio testemunha da agitação social e política desencadeada pelo regime militar. Caberia a mim olhar para tudo isso com independência e isenção, necessárias para o relato despido de engajamento e por isso mesmo acredito - profundamente político, declara. Entre 1968 e 1975, o Brasil era dominado pela perseguição política e pela tortura. Nesse contexto constrói-se a figura de Fleury. Ascendeu rapidamente e se transformou no número 1 da polícia, com carta branca da cúpula militar e civil para agir em qualquer ponto do País. O homem, que torturou e assassinou sob proteção da lei, morreu afogado aos 44 anos, em circunstâncias ainda misteriosas. Paralelamente, Percival revela a ambiguidade desse personagem, matador e jogador de futebol, amante, líder do esquadrão da morte, cruel com os perseguidos e leal aos amigos, que vestia camisa florida e gostava de churrasco. Um homem introspectivo e avesso a entrevistas, que dirigia um opala azul com granadas no porta-luvas. Na trilha de Fleury, o autor encontrou o cabo da Marinha José Anselmo dos Santos que, depois de fazer guerrilha em Cuba e ser expoente da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), foi convertido e transformado por Fleury num espião da repressão política. Essa polêmica personagem lhe rendeu material para publicar, pela Editora Globo, o livro Eu, Cabo Anselmo. Percival de Souza armazenou durante duas décadas informações obtidas através de conversas com policiais, militares e ex-militantes da luta armada. Durante a pesquisa levantou documentos do Exército, da Aeronáutica, processos judiciários, denúncias do Ministério Público, inquéritos, documentos na Justiça Militar e relatórios confidenciais. Sei que diversas revelações são chocantes, mas, tenho certeza, contribuirão, e muito, para que a turbulência dos anos de chumbo seja compreendida, declara o autor. Fiquei impregnado de lamentos fardados, da repressão e da luta armada. São as vozes - todas brasileiras - deste livro, que achei oportuno registrar, perseguindo as histórias, para perpetuar a memória deste período, finaliza.