Uways, contemporâneo de Maomé, era capaz de viajar pelo Mundo Imaginário, onde podia assumir a forma que quisesse. Asclépio, o antigo deus grego da cura, aparecia em sonhos para as pessoas que dormiam em seu templo. Os antigos judeus, ao se deitarem, faziam orações que induziam os anjos a aparecerem em seus sonhos para responder a suas perguntas. Em um estudo fascinante, com base em tradições diversas - como o Sufismo, o Taoísmo, o Xamanismo e o sincretismo das religiões afro-americanas e dos primeiros cristãos -, Peter Lamborn Wilson resgata um ponto em comum entre todas elas: o papel fundamental da experiência do sonho como um elo de ligação entre o Homem e o mundo espiritual. Partindo do Corão, passando pelos ching - os Livros Celestias chineses, estudando os livros de sonhos egípcios, os escritos mediúnicos da América Central e chegando até mitos antiqüíssimos que dão conta do surgimento do primeiro Xamã, o autor nos revela que o sonho, em diversas religiões, pode se tornar um ritual sagrado de iniciação. A partir dessa constatação, o autor questiona a autoridade religiosa, já que, com o reconhecimento do sonho como ritual iniciático, a figura do mestre - do guru que leva seu seguidor à iluminação no mundo espiritual - torna-se dispensável. Por outro lado, tendo o sonho como uma experiência reveladora - aquela vivenciada enquanto sonhamos -, o velho livro dos sonhos assume um papel de grande importância, servindo como guia para esse mundo que se revela quando dormimos.