É verdade que a revolução que tinha como ideário transformar radicalmente a situação da mulher no mundo ainda não nos trouxe todos os frutos prometidos. Também é verdade que após quarenta anos de avanços e de alguns recuos, a geração das mulheres que hoje chegam à maturidade encontrou um mundo que sequer era sonhado por suas avós. Em grande parte, a obra de Raquel Gutierrez "O feminismo é um humanismo" merece ser registrada como um valioso aporte ao conjunto de propostas feministas, no campo teórico, sobre a igualdade de gênero que balizou nossa prática e norteou, em boa parte, a revolução sexual, no Brasil. Com este livro abriram-se novas janelas que iluminaram com uma luz muito original temas dos quais não raro fugíamos de discutir, em grande parte, pela ausência de argumentos racionais e conseqüentes, que preenchessem as lacunas de nossa visão marcadamente emocional, quando não até mesmo passional. Estão neste caso questões como o efeito negativo da liberalização parcial e não raro inconseqüente do exercício precoce da sexualidade; o embate entre a legitimação ou a criminalização da prostituição; o aborto reivindicado como direito ou fechado como tabu; além dos vícios que hoje, mais do que nunca, desnaturam a imagem da mulher na publicidade, são apenas alguns exemplos de questões que não têm sido suficientemente discutidos entre nós. Nesse sentido, podemos afirmar com segurança que o acervo teórico do feminismo, no Brasil, muito deve ao aporte filosófico e político proposto por Raquel. "O feminismo é um humanismo" agora re-editado, continua atual, embora seu público leitor não seja o mesmo, nem o mundo seja o mesmo dos idos de 1985, quando ele veio à luz. Dele pode se dizer o mesmo que se diz de muitas mulheres e de uns poucos homens: a idade só lhe fez bem...