Relatos inéditos de um Peralta procurado pela ditadura chilena A Escrituras Editora lança Relatos íntimos de José Peralta, de Gustavo Marin, com tradução de Pedro Garcia. Este livro nasceu a pedido de seus filhos e amigos para que publicasse as histórias que lhes contava. Em um clima totalmente informal, ele relata suas experiências durante o governo Allende e no período da ditadura militar de Pinochet, no Chile. Suas histórias são carregadas de um sentimento de irmandade e de humor. São relatos escritos com a simplicidade e a espontaneidade de uma conversa. José Peralta foi o codinome usado pelo autor, na época, militante do MIR (Movimiento de la Izquierda Revolucionaria), durante o período da Unidade Popular no Chile, que culminou com o golpe militar em 11 de setembro de 1973, liderado pelo general Pinochet. Pode-se dividir o livro em três etapas: no início, no Chile; num segundo momento, o exílio na França; e o terceiro, idas e vindas da França para o Chile e suas viagens pelo mundo. Não há uma ordem cronológica, o que existe é uma seqüência de recordações que surgem aos poucos, com histórias antigas e recentes misturadas, como explica o próprio autor. Em todos os seus relatos, o autor mostra a paixão com que exerce as ações políticas, combina o objetivo ao subjetivo, explicitando suas crenças, dúvidas, tristezas e alegrias. Quando fala da tortura durante o tempo em que ficou preso, essa forma de se expressar fica mais intensa e comovente. Anos mais tarde, ao ser perguntado como conseguiu suportar a tortura, Gustavo Marin respondeu: ... é que eu estava disposto a morrer, e concluiu: Esta disposição nos ensina a amar, a amar a nossa própria vida e a dos outros, a Terra e o Universo. Porque sabendo morrer uma paz profunda se fará carne e nós apreciaremos a vida. José Peralta mostra que na prisão aprendeu muitas coisas que sempre levará consigo. Ao falar de seu exílio na França, reconhece como é reconstruir a vida em outro lugar, longe de sua terra, o difícil aprendizado que se inicia pelo idioma e passa por todas as relações sociais. Circulando pelo mundo, aprende do mais exótico ao mais dramático momento. Em suas viagens, ganha grande experiência e consegue obter o aprendizado do significado mágico da vida, o que possibilita reinventar novos sentidos para a existência e para a humanidade. Com suas histórias, leva-nos a um mundo duro, real, mas também poético e pleno de encantamentos. Gustavo Marin é chileno naturalizado francês. Estabeleceu-se na França após sobreviver à perseguição, prisão, tortura e exílio devido à resistência à ditadura de Pinochet. Atualmente reside em Coubron, pequena cidade próxima a Paris. Desde 1992 trabalha na Fondation Charles Léopold Mayer, em Paris, como coordenador do Programa Futuro do Planeta, e anima a Aliança por um Mundo Responsável, Plural e Solidário, dinâmica social que se propõe a construir um mundo de paz e solidariedade por meio do fortalecimento de experiências inovadoras de mudança social, política e cultural.