"Este A fome, publicado em 1890, um ano após a proclamação da República, é o primeiro grande romance que trata das secas no Nordeste. O escritor, nascido em Salvador mas sempre auto-proclamado cearense, foi testemunha ocular de muitos dos fatos que relata. A seca de 1877-1879, conhecida como \""a dos três setes\"", foi a maior dos últimos dois séculos. Estima-se que na longa estiagem tenham morrido cerca de 500 mil pessoas, cerca de 4% da população nordestina de então. Alguns vilarejos do Ceará - província mais atingida - simplesmente desapareceram. A seca combinou a fome com epidemias de tifo, varíola e cólera. As autoridades governamentais foram omissas, como relata Teófilo. O deslocamento de dezenas de milhares de cearenses para Fortaleza, a capital, mal preparada para esse repentino e desorganizado aumento de população, acabou promovendo a proliferação das doenças. O êxodo de milhares de flagelados para a Amazônia, onde estava começando a exploração da borracha, foi incentivado e impulsionado pelo poder público local como forma de aliviar a pressão gerada pela massa de miseráveis. Rodolfo Teófilo fez de A fome, pois, também um romance-denúncia. O naturalismo acabou sendo um instrumento utilizado pelo autor para apresentar aos seus leitores as mazelas da seca, demonstrando como o flagelo destrói os laços sociais e as antigas relações familiares, desorganiza a estrutura econômica e degrada a própria condição humana. Não é exagero afirmar que A fome foi o precursor do romance regionalista desenvolvido especialmente nos anos 1920 a 1940. O autor, farmacêutico de formação, também escreveu diversos relatos históricos sobre o Ceará, além de contos e outros romances. Foi um adversário dos oligarcas locais e da ação política de padre Cícero. Morreu aos 79 anos, legando uma obra importante, agora resgatada do esquecimento."