A dissertação de Marcella Miranda constitui uma excelente investigação sobre a complexidade da cultura política europeia em fins do XVI, centrada na situação da Monarquia de Espanha nos últimos momentos do reinado de Felipe II. Desde o primeiro momento seu trabalho se coloca como uma pesquisa que, longe de se reduzir a uma vertente estritamente erudita, se inscreve dentro da reflexão geral sobre a cultura política europeia do Antigo Regime, localizada no controverso problema da natureza do absolutismo. Neste sentido, sua investigação sobre as Cortes de Castela de 1592-1598 levanta precisões de interesse sobre a elasticidade de uma cultura confessional católica como a espanhola para fazer seus os pressupostos da ascendente razão de Estado sem sair das linhas vermelhas de seu paradigma confessional. O trabalho, finalmente, coloca em manifesto um esforço metodológico a fim de aplicar as propostas da história contextual e conceitual na análise das fontes e do diverso material textual, se afastando das interpretações convencionais presentistas da instituição parlamentar e sugerindo, em definitivo, novas e sugestivas vias de pesquisa para abordar a história política europeia do século XVI.