Não há dúvidas de que há aproximadamente 2 mil anos um carismático judeu foi executado por ordem judicial em Jerusalém. Na época, eventos como esse eram comuns. A Palestina estava em ebulição, judeus e romanos encontravam-se em maus termos e as autoridades em geral reagiam com ferocidade diante de qualquer possibilidade de ameaça. As conseqüências dessa execução, no entanto, provaram-se imensuráveis; a decisão de Pôncio Pilatos motivou o surgimento de uma religião que ainda hoje subsiste, influenciando a história do mundo. Mas o quanto sabemos realmente sobre a Paixão - seqüência de eventos descrita pelos seguidores de Jesus -, a prisão, o julgamento e a execução de um homem santo local cujo impacto póstumo só pode ser comparado ao de raríssimas figuras históricas? Neste livro, Geza Vermes analisa as contradições dos quatro evangelhos canônicos - Mateus, Marcos, Lucas e João - para esclarecer o episódio da Paixão de Cristo. Leva a cabo esta tarefa ao mostrar, por exemplo, que a presença da Virgem Maria ao pé da Cruz é detalhada apenas no relato de João; que apenas em Lucas encontram-se as famosas palavras de Jesus, 'Pai, perdoa-lhes - não sabem o que fazem', em geral citadas pelos cristãos como prova de que o perdão é a virtude distintiva de sua fé; e que só em Mateus é desenvolvida a história da traição e do suicídio de Judas. Adicionalmente, o autor aponta equívocos de tradução dos textos, responsáveis por uma série de mal-entendidos perpetuados ao longo da história. Além de investigações pontuais, Geza Vermes expande seu estudo para um contexto mais amplo e polêmico, ao sugerir que os relatos dos evangelistas foram distorcidos de modo a culpar os judeus, e não os romanos, pela morte de Jesus, o que teria servido de ponto de partida para mais de 2 mil anos de anti-semitismo por parte dos cristãos.