Foram visitas de amizade, que começaram nos meados da década de 1960. Pouco a pouco, José Paulo me foi revelando, em meio a uma conversa despretensiosa, mas generosa, o tesouro de suas leituras e de suas observações de crítico consumado. Nesses encontros ocorria uma perfeita inversão de papéis. Era o autodidata José Paulo que ensinava o professor universitário. E aqui cabe uma reflexão sobre a diferença entre o horizonte de leitura do autodidata e o horizonte do especialista. O primeiro lê por prazer, sem a viseira do profissional, que precisou definir, às vezes precocemente, o seu repertório, ao qual ficará preso anos a fio como a uma obrigação. José Paulo Paes, ao contrário, era um leitor livre e sem fronteiras. Ler o crítico José Paulo Paes é um contínuo desafio para enfrentar o percurso que vai das partes ao todo e vem do todo ao particular. E é um convite para reconhecer no detalhe o sentido que ilumina a obra inteira. [Alfredo Bosi]