A complexidade poética de Paulo Nunes, nesta obra, incorpora ressonâncias que emergem de sua prática como leitor atento e professor de literatura. Não é uma poesia plana, mas de profundidade pessoal e competente na história literária. O poema é sempre um búzio da linguagem. Afinal, como lembra Nelson Goodman, a arte é maneira de fazer mundos. E penso que o artista faz o mundo da arte com os mundos que traz dentro de si. Nesse caleidoscópio a palavra não é a coisa. A palavra dá existência à coisa no poema. E o poema, por sua dimensão estética, se constitui numa co-realidade. A palavra é ultrapassada como fetiche para tornar-se mais soberana como palavra poética, que inclui, é claro, sua condição de objeto cerimonial.